quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O Silêncio

Nós os índios, conhecemos o silêncio.  Não temos medo dele. Na verdade, para nós ele é mais poderoso do que as palavras. Nossos ancestrais foram educados nas maneiras do silêncio e eles nos transmitiram esse conhecimento. "Observa, escuta, e logo atua", nos diziam. Esta é a maneira correta de viver. Observa os animais para ver como cuidam se seus filhotes. Observa os anciões para ver como se comportam. Observa o homem branco para ver o que querem.
Sempre observa primeiro, com o coração e a mente quietos, e então aprenderás.  Quanto tiveres observado o suficiente, então poderás atuar. Com vocês, brancos, é o contrário. Vocês aprendem falando. Dão prêmios às crianças que falam mais na escola. Em suas festas, todos tratam de falar. No trabalho estão sempre tendo reuniões nas quais todos interrompem a todos, e todos falam cinco, dez, cem vezes. E chamam isso de “resolver um problema”. Quando estão numa habitação e há silêncio, ficam nervosos. Precisam preencher o espaço com sons. Então, falam compulsivamente, mesmo antes de saber o que vão dizer. Vocês gostam de discutir.  Nem sequer permitem que o outro termine uma frase. Sempre interrompem. Para nós isso é muito desrespeitoso e muito estúpido, inclusive. Se começas a falar, eu não vou te interromper. Te escutarei. Talvez deixe de escutá-lo se não gostar do que estás dizendo. Mas não vou interromper-te. Quando terminares, tomarei minha decisão sobre o que disseste, mas não te direi se não estou de acordo, a menos que seja importante. Do contrário, simplesmente ficarei calado e me afastarei. Terás dito o que preciso saber. Não há mais nada a dizer. Mas isso não é suficiente para a maioria de vocês. Deveríamos pensar nas suas palavras como se fossem sementes. Deveriam plantá-las, e permiti-las crescer em silêncio. Nossos ancestrais nos ensinaram que a terra está sempre nos falando, e que devemos ficar em silêncio para escutá-la. Existem muitas vozes além das nossas. Muitas vozes. Só vamos escutá-las em silêncio.

(Sabedoria indígena)

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Mais uma sobre marketing...



“Você vai ao Shopping Center à procura de uma calça jeans. Após ter vencido a batalha da escolha entre as inúmeras marcas e modelos, você escolhe a sua calça. Deverá ela satisfazer a sua necessidade de se abrigar e, possivelmente, satisfazer outros tipos de necessidades criadas pela sua fantasia como, por exemplo, emprestar-lhe status em função da marca ou deixá-lo com o corpo mais bonito, etc.”
O modo de produção capitalista tem na mercadoria a forma elementar de sua riqueza. A riqueza das sociedades e das pessoas nada mais é do que acumulação de mercadorias. O que é mercadoria? “_A mercadoria é, antes de mais nada, um objeto externo, uma coisa que, por suas propriedades, satisfaz necessidades humanas, seja qual for a sua natureza, a origem delas, provenham do estômago ou da fantasia.” Nos diz Marx.
O ultimo texto que escrevi foi sobre as diversas funções do MARKETING no mundo capitalista, e entramos em assuntos polêmicos em referente às pessoas que dizem que o marketing seria uma ferramenta de manipulação do capitalismo. Podemos dizer que partes das pessoas conscientizaram sobre, e assim as empresas encontraram outro desafio.
A grande verdade é que nos dias de hoje, as marcas enfrentam um grande desafio no mercado para se sobressaírem sobre outras marcas. Aquele velho jeitinho de fazer publicidade e “empurrar” o produto no consumidor, não funciona mais. As grandes marcas buscam ter experiências com seus consumidores para se concretizarem ou se manterem vivas na mente deles.

“Pessoas não compram produtos; elas compram versões melhores de si mesmas.”
A melhor estratégia de marketing agora não é “cuspir” em seu consumidor as dezenas de características que seu produto lhe oferece, mas sim mostrá-lo os benefícios que o produto pode lhes proporcionar.

“Característica é o que seu produto faz; benefício é o que o consumidor pode fazer com seu produto”.



Em uma simples forma de anunciar/propagar seu produto você poderá ter grande sucesso ou ser um grande fracasso. Percebe-se que em apenas uma forma de linguagem podemos modificar totalmente a reação do consumidor frente ao seu produto, exemplo: os MP3 Players já estavam sendo vendidos no mercado quando uma grande noticia veio a tona, que Steve Jobs acaba de inventar o iPod, vários noticiários e indústrias de tecnologia coçaram a cabeça, pois, os MP3 players já estavam no mercado há algum tempo, e começaram a pensar o que seria de tão diferente no iPod? Após lançamento, varias pessoas apontaram e perceberam diferenças em ambos os produtos, mas o grande diferencial foi à forma em que Steve Jobs apresentou seu produto ao mundo:
“1.000 músicas no seu bolso”
Enquanto a concorrência dizia: “1GB de armazenamento em seu MP3”, a respeito sobre ambos os produtos, a Apple que foi a ultima empresa a lançar, mesmo assim saiu na frente de todas as demais empresas. Com este simples slogan, “1.000 músicas no seu bolso”,e  Steve Jobs fez que o seu produto, o iPod fizesse parte de você.
Neste pequeno, mas também fantástico exemplo percebe-se que uma marca destaca a maior característica de seu produto, que é: “1GB de armazenamento em seu MP3”, enquanto Jobs destaca o beneficio do mesmo. São pequenos detalhes que fazem toda a diferença no sucesso de uma marca.
A todo instante somos bombardeados por diversas propagandas de todo tipo de produtos/serviços de diferentes marcas. Ao final do dia após todos esses bombardeios são poucos os anúncios que ficam em nossa mente, e são estes poucos que irá fazer a diferença na hora da compra de especifico produto da marca x ou da marca y. Um bom termômetro para as empresas hoje em são as redes sócias, onde elas podem “viver” o dia a dia com seus consumidores e assim poder lhes aproximar cada vez mais deles vivendo experiências novas.
Continuamos comprando muitas vezes ainda focando apenas na marca, não apenas por status, mais por causa desta nova estratégia que usam ,definindo cada vez mais seu publico alvo e também mostrando aos demais o porquê ela é lembrada. Como dito anteriormente, as grandes marcas estão nos vendendo benefícios que seus produtos/serviços podem nos proporcionar.






domingo, 13 de julho de 2014

Tempo

Quando as mãos enrubescem pelo tempo
A prataria velha permanece suja sobre a pia
Um prato sobre o outro a se enlaçar com a água suja
O que penso sobre a vida não importa mais
Nada importa mais
Porque os sonhos são de outrora
A pele aveludada das mulheres cálidas é de outrora
Porque o trabalho não me apetece mais
Porque a vida é de outrora.
O mundo pesou sobre a coluna velha
Dos todos os fardos que hei de carregar, o que mais pesa
É o nada, é uma criança a morrer de fome.
Meu corpo traiu as promessas da meninice
Minha alma corrompeu-se.
Não se corrompeu apenas por corromper-se
Mas eu exigi-me a corrupção.
Quando a vida pediu-me pressa
Resolvi-me esperar
Quando a vida pediu-me calma
Decidi-me acelerar.
A dicotomia me assassina, apavora-me.
Mas apenas ela resta.
Os homens nada são, as poesias nada são, muito menos as histórias
Como em uma filosofia kantiana, precedo-me a observar.
Mas estou cansado delas,
Não há nada
Nunca houve nada.
E em todos os tempos verbais, e mesmo que me curve sobre a gramática
O vazio continuará dominando-me a alma, o corpo, os dentes.
Os dentes caem, a morte vem, e a alma habita
O coração de quem ama, e sente saudades.
Para tudo resta o fim
E para mim apagou-se, como fogueira velha.
Despeço-me com o mesmo fulgor que me entregaram a vida
Temo, e temo mais ainda a escuridão.


Raphael F. Lopez

domingo, 22 de junho de 2014

Homo poiesis

Dos louros que haviam de pousar 
sobre os cabelos fartos humanos,
já não mais lá hão de habitar,
Os reinos que em outrora, apreciaram
grandes cajados a descer sobre o chão duro,
já de histórias infantis foram tomados.
O primeiro grito ecoou sobre a úmida relva,
o primeiro grito desencadeou uma vida,
um coro de gritos foi ouvido...
A faísca da existência foi lançada, 
no meio de uma selva qualquer
a dar origem ao homo poiesis.
Bradou sobre a selva mais escura
a menos desbravada de todas selvas
a mais selvagem e mais temida.
Bradou sobre o espírito humano.
Quando atingiu o alto do monte,
nunca dantes escalado,
e hasteou sua bandeira 
esvoaçada pelo vento forte,
erguida foi uma coroa, e suscitado foi
com honrarias, rei de si próprio.

Casta são as histórias,
Santo sejam os corações que
hão de ter sempre flores nas mãos,
e que meus afagos sejam agraciados
Minhas dores por amores sejam perdoadas
porque metade de mim é prosa
e a outra metade, poesia.


Raphael F. Lopez

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Dor

Minha dor não é percebida pelos meros hipócritas.
Que me arrancam a pele com suas mãos tortas.
Creio que nem o amor me cura dessa amargura, dessa usura.
Minha vida é sazonal, nada passional, meio sem sal.
Não tenho vontade de sair da cama, Morfeu me apanha e me chama pra bailar.
Sou apenas carne.
Sou apenas dor.
Sou apenas nada.
                                 


 Pedro Donizete Ferreira

quarta-feira, 28 de maio de 2014

E se Deus fosse um poeta

E se Deus fosse um poeta,
daqueles que escrevem histórias infantis?
José padeceria
Manuel renasceria
e Pedro voltaria a matriz.

E se Deus fosse um poeta,
desses que só sabem amar a noite.
José seria um apaixonado
Manuel viveria calado
e Pedro abandonaria o açoite

E se Deus fosse um poeta?
a vida de todos nós
não terminaria com o fim atroz
que nos iguala e nos deixa sem onde ir.

E se Deus fosse um poeta?
quanta criatividade existiria 
na nossa vida senil 
que meio sem graça vai para o mesmo limiar.

E se Deus fosse poeta?
a poesia viveria no mais vívido ser que na vida ocupa.
O fim seria apenas o começo,
do mais belo verso que há de rimar a vida.


Raphael F. Lopez

sábado, 10 de maio de 2014

Dias vão,
Só sei que não
Que nunca saberei em que posso crer
Vá, não me esperes mais,
E só posso ser
O que sei.
Porque sou do tamanho do que sinto,
Do tamanho do que sonho.
Nada mais , assim vou, me despindo
E sendo uma luz , uma luz

De tempos atrás.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Maioridade Penal

Estatuto da Criança e do Adolescente: eficiente ou ultrapassado?
O assassinato do estudante de rádio e TV Victor Hugo Deppman, 19 anos, quando chegava a sua casa numa noite de terça-feira em São Paulo gerou grande comoção popular e sérias discussões sobre a questão da redução da idade penal no Brasil. O grande apoio às propostas de punir esses jovens infratores veio pelo fato do assassino, que teve seu nome preservado por ainda não ter completado a idade penal no momento do crime, sofrer apenas medidas socioeducativas previstas pela ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), mesmo tendo completado 18 anos dias depois de ter se entregado a polícia.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), como resposta ao clamor popular, levou até Brasília um projeto de lei de sua autoria, que prevê uma reforma ao ECA e punições mais rigorosas a jovens que cometem crimes hediondos. Uma das propostas para tentar coibir a ação de menores em crimes, é a ampliação de até oito anos do período de internação do menor, e a transferência para presídios daqueles que completarem 18 anos durante o seu período de internação na Fundação Casa. O governador ressaltou em entrevista, o fato de o jovem delituoso ficar apenas três anos internado na fundação, e sair com a ficha limpa, embora seja um caso hediondo e reincidente. Crimes dessa mesma natureza continuam ocorrendo, aumentando ainda mais a sensação de falta de punição aos jovens em conflito com a lei, exemplos disso foram o estupro de uma mulher dentro de um ônibus no Rio de Janeiro e o assassinato da dentista Cinthya Magaly Moutinho de Souza em São Paulo, que teve o seu corpo queimado. E para total indignação de todos, no momento da apreensão do menor agressor , o mesmo em sinal de deboche à lei que o protegerá, riu para as câmeras, sem temer a sua punição.
O Ministro da justiça, José Eduardo Cardozo, se colocou contra as alterações propostas ao ECA, e classificou as discussões de diminuir a maioridade penal para 16 anos como descabidas do ponto de vista jurídico, principalmente pelo fato de ser garantido pelo artigo 228 da constituição Federal de 1988 a inimputabilidade de menores de 18 anos e a sujeição dos mesmos à legislações especiais. Tornando esses projetos de lei inconstitucionais, e para alguns uma violação de Cláusula Pétrea. Também indo contra a sujeição dos menores infratores pela legislação penal comum, o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB) e o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, defenderam a ampliação de projetos que integram a juventude negra e mais pobre aos meios sociais, sob o argumento de que diminuir a maioridade penal é ineficaz para o fim da violência no país, posicionando o governo de Dilma Rousseff contra as medidas de austeridade às leis penais.
Não é a primeira vez que é defendido, por grande parte da população brasileira, que discussões sobre a reforma do direito penal brasileiro seja posta em pauta pelo congresso Nacional, atualmente, pelo menos cinco propostas de emenda à constituição (PEC) tramitam pelo Congresso, dentre vários outros projetos de lei da mesma natureza.
 Em abril de 2007 foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado Federal uma PEC de autoria do ex-senador Demóstenes Torres que previa a redução da maioridade penal para 16 anos nos casos de crimes hediondos, desde que laudo técnico psicológico, atestasse a capacidade do adolescente de entender a ilicitude de seu ato. A proposta ainda sugeria o cumprimento da pena em local diferente dos detidos maiores de 18 anos. Desde então a proposta aguarda votação em plenário. A PEC do ex-senador Demóstenes Torres foi aprovado pela CCJ sob o calor da comoção popular diante da morte do garoto João Hélio Fernandes, 6, que foi arrastado por ladrões, um deles menor de 18 anos, em um carro por 14 ruas do Rio de Janeiro.
Uma proposta de emenda à constituição semelhante à aprovada pela CCJ em 2007 é a PEC 33/12 do Senador Aloysio Nunes (PSDB) que também é a mais recente e a que agradou a maior parte dos parlamentares. A proposta do Tucano prevê a redução da maioridade penal para 16 anos apenas nos casos de crimes hediondos e inafiançáveis. E ainda a possibilidade de jovens reincidentes, que cometessem crimes como o roubo qualificado, responderem como adultos.


“Não pergunte o que o seu país pode fazer por você, pergunte o que você pode fazer pelo seu país”.
Sob a defesa do Artigo 228 da Constituição Federal de 1988 (“São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial”) juristas e parlamentares demonstram a inconstitucionalidade dos projetos de lei que desejam modificar a idade penal brasileira, e ainda sob a defesa do artigo 60, parágrafo 4º, inciso IV da Constituição Federal de 1988 (“Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: (...) IV- os direitos e garantias individuais.”) acusam-nas de violar uma Cláusula Pétrea. Invocam, ainda, o artigo 227, parágrafo 3º, V da Constituição Federal de 1988, e vários outros artigos do Estatuto da Criança e do Adolescente para reforçar os argumentos e barrar a evolução das propostas de emenda à Constituição (PEC) no Congresso Nacional.
O atual governo considera que a diminuição da menor idade não solucionará o problema do envolvimento de jovens na criminalidade, mas sim, agravará; defendendo a ampliação de projetos de inserção social como o ‘Brasil carinhoso’ e o ‘Juventude viva’. Reconhecendo a falência do sistema prisional brasileiro, juristas atentam para o fato de que colocar jovens em prisões comuns só aumentariam os índices de reincidência, e tornariam esses jovens verdadeiros bandidos profissionais. “Precisamos de reestruturação das polícias brasileiras e melhoria na atuação e estruturação do Judiciário e não de medidas que condenem o futuro do Brasil à cadeia”, destaca Ariel de Castro, membro do Movimento Nacional de Direitos Humanos, que pede cautela aos defensores da diminuição da maioridade penal após crimes bárbaros como o ocorrido em São Paulo.
Para muitos, adotar medidas de austeridade ao ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) só resolveriam as consequências do problema, e as suas verdadeiras raízes ficariam mais uma vez sem solução. Outros acusam os defensores da diminuição da menor idade penal, de ‘aproveitadores das dores alheias’; apresentando propostas milagrosas e sem real efetividade só para se promoverem diante do eleitorado.
A UNICEF e a CNBB (Conferência nacional dos Bispos do Brasil), declararam em nota o repudio as propostas de leis que desejam modificar o Estatuto da Criança e do adolescente. Para a CNBB diminuir a maioridade penal para 16 anos “é maquiar o verdadeiro problema do Brasil”, como a desigualdade social e a educação de má qualidade. Já a UNICEF alertou para o fato de que seria inconciliável com o sistema nacional de atendimento socioeducativo (SINASE), que hoje, rege o funcionamento e a execução das medidas socioeducativas. Além de afrontar os direitos enunciados em tratados e documentos internacionais, de proteção aos direitos humanos de crianças e adolescentes, assinado pelo Brasil.
O vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), alertou para a falsidade da justificativa de que o crime organizado utiliza dos adolescentes para cometer crimes mais graves, e que diminuindo a maioridade penal para 16 anos corrigiria esse problema, que pelo contrário só incentivaria o crime organizado a recrutar pessoas cada vez mais jovens.
Portanto para aqueles que defendem a manutenção do ECA ou só uma atualização do mesmo, diminuir a maioridade penal no Brasil é reconhecer a incompetência do Estado em proporcionar políticas públicas para o bem-estar da população, e efetivar as garantias constitucionais do direito à vida, à liberdade, à igualdade, e à propriedade.
Fazendo uso, assim sendo, das palavras de John F. Kennedy, “Não pergunte o que o seu país pode fazer por você, pergunte o que você pode fazer pelo seu país”.


"Em vez de ser ‘desculpabilizante’, a lei deve adaptar-se à realidade, que já não é de brandos costumes".
                       Vários são os exemplos dos países vizinhos, de endurecimento das leis penais para os jovens delinquentes, e exemplos como o dos EUA e do Reino Unido que o Brasil deveria seguir para muitos defensores da diminuição da maioridade penal no Brasil. Em grande parte dos estados americanos, o jovem com mais de 12 anos já pode ser julgado como um adulto, de acordo com a decisão do juiz, que tem maior liberdade para decidir quando o caso é digno de punições mais severas. Para alguns juristas, a solução estaria na tentativa de punir esses jovens criminosos em casos de reincidência de forma mais dura, como no caso dos EUA.
Ocorrências registradas com menores delituosos só têm aumentado por todo o país, e os crimes estão cada vez mais audazes e cruéis, lotando os centros socioeducativos, e abrindo mais uma vez a lacuna para se discutir a diminuição da maioridade penal para 16 anos. O Fenômeno, para muitos, deriva da proteção que as leis dão a esses menores infratores, que tem como pena máxima três anos de reclusão em uma entidade socioeducativa. Se é que se pode chamar de punição! Além de saírem com a ficha limpa, eles ainda recebem cursos profissionalizantes, ou seja, o garoto comete um crime, e o Estado lhe presta favores.
O colunista da Folha de São Paulo, Contardo Calligaris, demonstrou toda a sua indignação perante o brando sistema penal brasileiro acusando-o de "infantolatria", e de dar proteção a criminosos que cometem crimes cada vez mais atrozes por ter total consciência de que não serão punidos. “É assim que protegemos o futuro do criminoso, para que, uma vez regenerado pela mágica de três anos de internação (alguém acredita?), ele possa facilmente reintegrar a sociedade e ser um cidadão exemplar, nosso vizinho”, escreveu o jornalista em um trecho de seu artigo. Além de desmentir os argumentos de Ariel de Castro, membro do Movimento Nacional de Direitos Humanos, e do Ministro da justiça, José Eduardo Cardozo, que pediram cautela às tentativas de mudar a lei sob fortes emoções de crimes bárbaros, comparando o pedido de ambos com os conselhos dados pelos fabricantes de armas nos EUA, que também pedem cautela quando alguém tenta mudar a lei depois de massacres em Universidades americanas. Ao acusar o Estado de infantolatria, o jornalista, faz menção ao narcisismo infantil, que na tentativa de acreditar que os jovens são todos naturalmente bons, transfere a culpa para a sociedade, ao invés de punir essas crianças que são realmente más e responsáveis pelos seus próprios atos.
Outro argumento utilizado para fortalecer as propostas de emenda à constituição (PEC), que desejam modificar o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é a de que a lei feita para os jovens há 70 anos, já não é mais compatível aos jovens dos dias de hoje. Um mundo regado de informação rápida, e permeado por estímulos ao desenvolvimento cada vez mais precoce, cria jovens também mais conscientes e com maturidade diferente daqueles nos quais a lei da maioridade penal se baseou. Sobretudo, é totalmente justificável que a lei evolua de acordo com a evolução social do país, visando ser esta uma tendência dos países desenvolvidos. "Em vez de ser ‘desculpabilizante’, a lei deve adaptar-se à realidade, que já não é de brandos costumes", sustentava então o deputado de Portugal Nuno Magalhães, quando a questão foi discutida no Plenário daquele país.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), colocou-se, assim como seu partido, totalmente a favor das medidas de endurecimento ao ECA, com o apoio de 93% dos paulistanos que também desejam que seja feita justiça diante do sangue derramado por jovens delinquentes. O senador Sérgio Souza (PMDB), apresentou um projeto de lei para modificar o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no entanto a mesma foi rejeitada pela comissão de direitos humanos (CDH) e agora segue para votação na comissão de constituição e justiça (CCJ). A proposta de emenda à constituição de Aloysio Nunes (PSDB) ganhou o apoio dos parlamentares e, por via dos fatos, deve seguir como a única a discutir o assunto. O relator da PEC de Aloysio Nunes, senador Ricardo Ferraço (PMDB), demonstrando o seu apoio à tramitação da proposta do Tucano como única a discutir o assunto, destacou em entrevista que "a sociedade não pode mais ficar refém de menores que, sob a proteção da lei, praticam os mais repugnantes crimes". Dentre várias ideias que circulam pelo Congresso Nacional, alguns parlamentares defendem até que a questão seja decidida em plebiscito pela população.

Criticando a utilização do argumento social pelos defensores da manutenção da maioridade penal aos 18 anos, os reformistas defendem que os problemas socioeconômicos não podem ser justificativos para a impunidade, considerando que também há em meio a esses jovens delinquentes, adolescentes de classe média, e classe média alta. Além do fato das mudanças sociais serem em longo prazo, o que torna necessário que medidas de efeito rápido sejam também aplicadas, viabilizando a redução da maioridade penal no Brasil. 

Raphael F. Lopez

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Parabéns Mestres e Professores!

Depois de nos condoermos, não nos esqueçamos de dizer obrigado àqueles que nos ensinaram à refletir sobre a vida, pois como dizia Platão "Uma vida não questionada não merece ser vivida". Porque "Uma vida não basta ser vivida. Ela precisa ser sonhada."

Sentei-me na minha poltrona, abri meu facebook, e resolvi então escrever belas palavras aos professores, mas eu nem sei o motivo pelo qual se comemora essa data, na verdade eu nunca dei a mínima pra escola, não gostava de fazer aqueles deveres chatos, e não hesitava em dar uma bela má resposta quando a professora cobrava estes deveres... Ontem li numa reportagem da internet que os professores ganham mal, que estão de greve, e que estão apanhando de governadores eleitos pelo nosso sistema democrático que eu tanto venero... Fiquei realmente triste com isso, mas o que posso fazer, foram eles que escolheram essa profissão... 

Quando tem aquela reunião de pais e professores na escola do meu filho, eu compareço, ouço os problemas, no entanto acho que apenas conversar resolve, cobrar meu filho todos os dias o dever feito e disciplina talvez é um pouco de excesso.
Vou chama-los de mestres aqui na internet. Aqueles que vão resolver o problema do país, acho que já estarei fazendo minha parte.
Mas deixemos o moralismo de lado, deixemos a nossa vertente politicamente correta pra depois. E enxerguemos a realidade como é, fora de nossa casa. Enxerguemos que vivemos em um emaranhado onde tudo que fazemos e tudo que é feito atinge os outros e nos atinge. Que todos os dias sofremos influências daquilo que acontece ao nosso redor, mas que também somos responsáveis por cada mísero ato individual. Viver é se responsabilizar.
Olhemos um pouco para a história:
Um decreto de D. Pedro I, em 15 de outubro de 1827, definiu como deveriam ser as Escolas de Primeiras Letras em todo o Brasil. Essa lei dizia, entre outras coisas, o que deveria ser ensinado para meninos e meninas. Em 1963, um decreto do presidente João Goulart instituiu o dia 15 de outubro como dia do professor. Uma homenagem extremamente necessária.
Agora olhemos para a tentativa de D. Pedro I ao tentar reformular a educação do Brasil, e nos inspiremos à mudar todos os dias a nossa educação contemporânea.
Um dia apenas, não é o bastante para homenagearmos profissionais de extrema importância, e o dia do professor não é o dia de escrever falsos moralismos, o dia do professor, é acima de tudo, o dia de olharmos para a educação desse país e percebermos que as coisas não vão tão bem assim, é o belo momento de entendermos que nossas atitudes mudam o mundo, mesmo sendo pequenas. Que o dia dos professores nos faça crer em dias melhores, que nos faça acreditar que a utopia é necessária, que a mudança deve ser endógena, começar da mais pequena atitude, da mudança de consciência. 


E depois de nos condoermos, não nos esqueçamos de dizer obrigado àqueles que nos ensinaram à refletir sobre a vida, pois como dizia Platão "Uma vida não questionada não merece ser vivida."
Porque "Uma vida não basta ser vivida. Ela precisa ser sonhada."


Raphael F. Lopez

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

O vendedor de plásticos




"A vida é o paradigma das palavras."
Alessandro Manzoni











Manuel, rapaz fajuto, gordo, velho para a sua idade
vivia preocupado e comprometido com o trabalho
a cada canto da casa já cheirava a insalubridade
e o dinheiro não dava nem para a escola do pirralho.

Hora aqui, hora acolá, vendia o dia todo, todo dia
trabalhava na loja de plásticos da esquina
as coisas vão melhorar, rezava ele na abadia
e como o dinheiro não dava fazia um bico na oficina.

Cansado do trabalho, chegava em sua casa na Capela do socorro
Beijava esposa, filho, neto e papagaio
Separava a poupança, e as contas, e reclamava como um beatorro
Em casa berrava, e mandava; no trabalho não passava de sabujo, lacaio.

TV de plasma, carro na garagem e até roupa coca-cola
Gastava o que tinha, e o que não tinha para seguir as inovações da novela
Depois do jornal, abria a cerveja, cigarro e ia assistir seus jogos de bola
Na cama, o trabalho preocupava, e se rendia aos sonhos da vida bela.

Nos finais de semana, vivia no bar do senhô João
A cada grito de truco, um gole de cachaça esquentava a garganta presa
Apoiava no muro da direita, encostava na esquerda, e virava um falastrão
Depois da cachaça, prometia mundos a esposinha que já chamava de princesa.

Em uma noite de sábado, reclamou para o senhô João a falta de dinheiro
Senhô João encheu dois copos de cachaça: Bebe que é pra cura a dor.
Colocou a mão no ombro de manuel e disse como um conselheiro
Nunca se deixe ser escravo do trabalho, esse vício de fétido odor.

Três dias depois, Manuel sentiu forte dor no peito
era seu coração que já pedia socorro e compaixão
Havia sofrido um infarto do miocárdio, e agora jazia em seu leito
Manuel diria; que coração de plástico esse que levou-me ao caixão.

Lá estava Manuel, vendedor da loja de plásticos da esquina
Gritava truco, bebia e fumava no bar do senhô João
quando o dinheiro não dava, fazia bico na oficina.
E agora? agora Manuel, gordo e fajuto, jazia à sete palmos do chão.

As lágrimas escorriam dos olhos da esposinha
Já se lembrando de quando seu Manuel a chamava de princesa
Embriagada por aquelas lembranças de outrora, pedia aos céus agora viuvinha
E se tudo fosse um sonho? Eu teria Manuel esperando como surpresa.

E essa é a vida, uma constante odisseia por longínquos horizontes
Presos vamos a um espectro de lembranças, buscando a realidade enfim
Fecham-se as cortinas da vida para o morto Manuel, que buscou a fonte
dessa eterna poesia que já chega ao fim.


Raphael F. Lopez    16/08/2013

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